Eutanásia no Canadá: Até onde vai o direito de morrer? O impacto, polêmicas e o caso de April Hubbard

O debate sobre a eutanásia e a morte assistida ganhou destaque no Canadá, onde as leis estão entre as mais liberais do mundo. O caso de April Hubbard, uma artista de 39 anos aprovada para o procedimento, ilustra as complexidades éticas, médicas e sociais envolvidas. Este resumo explora os critérios legais, as perspectivas favoráveis e críticas, e os impactos dessas políticas.
O caso de April Hubbard: Vida, dor e escolha
April Hubbard, diagnosticada com espinha bífida e tumores na coluna vertebral, vive com dores crônicas debilitantes há décadas. Apesar de não estar em estado terminal, ela foi aprovada para a Medical Assistance in Dying (Maid), programa canadense de morte assistida. Seu plano é morrer em um teatro, cercada por familiares, em um ritual que chama de "comemorativo".
- April representa pacientes que buscam autonomia sobre o fim da vida, mas também levanta questões sobre os limites da eutanásia quando a morte não é iminente.
- Seu exemplo é usado tanto por defensores (que enfatizam o alívio do sofrimento) quanto por críticos (que veem riscos de banalização).
A evolução da lei canadense: Do estrito ao controverso
O Canadá legalizou a Maid em 2016, inicialmente para casos terminais. Em 2021, a exigência de doença terminal foi removida, e em 2023, o governo anunciou planos para incluir pessoas com transtornos mentais graves.
- Dados: Em 2023, houve 15.343 mortes assistidas (4% para casos como o de April, sem doença terminal).
- Processo: Dois médicos independentes avaliam o paciente, que deve ter "sofrimento intolerável" e consentir de forma livre.
- Contraste com outros países: No Reino Unido, propostas em debate limitam a eutanásia a pacientes com menos de 6 meses de vida e exigem autoadministração de drogas (não injeção por médicos).
Argumentos a favor: Autonomia e dignidade
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Direito à escolha: Defensores, como a Associação Canadense de Provedores de Maid, argumentam que o procedimento evita sofrimento desnecessário e respeita a vontade do paciente.
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Eficácia: A morte por infusão intravenosa é rápida (minutos) e considerada mais humana do que métodos orais, que podem levar horas.
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Exemplo de profissionais: Médicos como Konia Trouton destacam o caráter "honroso" de ajudar pacientes em seus últimos momentos.
Críticas: Risco de abuso e falhas no sistema
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Falta de apoio social: Andrew Gurza, consultor com deficiência, afirma que o Canadá "facilita mais a morte do que o acesso a cuidados paliativos".
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Pressão sobre vulneráveis: A médica Ramona Coelho relata casos de pacientes incentivados a optar pela Maid devido à falta de tratamentos acessíveis.
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Relatos familiares: Vicki Whelan, cuja mãe morreu de câncer, descreveu ofertas repetidas de eutanásia no hospital como "papo de vendedor".
Um debate sem respostas simples
O Canadá tornou-se um laboratório global para a morte assistida, com lições ambíguas. Por um lado, o sistema garante dignidade a muitos; por outro, expõe falhas na assistência social e riscos de expansão indiscriminada. Para países como o Reino Unido, o caso serve de alerta sobre a necessidade de salvaguardas rigorosas.
Reflexão final: April Hubbard sintetiza o dilema:
"Não é assim que eu quero viver".
Sua história convida à discussão sobre até que ponto a sociedade deve aceitar a morte como solução para o sofrimento — e quem deve definir esses limites.