Vício em telas: Por que a geração Z quer fugir dos celulares mas não consegue?

Em entrevista à BBC, o psicólogo social Jonathan Haidt, autor do livro A Geração Ansiosa: Como a Infância Hiperconectada Está Causando uma Epidemia de Transtornos Mentais (2024), revela um paradoxo: jovens da Geração Z reconhecem os malefícios dos celulares, mas se sentem "aprisionados" por eles. Haidt argumenta que as crianças foram "sugadas para se tornarem apenas consumidores de conteúdo"
, perdendo oportunidades de interações reais e desenvolvimento saudável. Com base em pesquisas e relatos globais, ele defende ações coletivas para reverter esse cenário.
O problema: Infância hiperconectada e seus efeitos
1.
Dependência coletiva: Haidt destaca que a luta contra o tempo excessivo de tela é universal. Pais e educadores enfrentam dificuldades para limitar o uso, especialmente quando as redes sociais são projetadas para prender a atenção.
2.
Impactos na saúde mental: Estudos associam o uso excessivo de telas ao aumento de ansiedade, depressão e isolamento entre jovens. A exposição a algoritmos (como os do TikTok e Instagram) pode fragmentar a atenção e reduzir a capacidade de interação social.
3.
Voz da Geração Z: Diferentemente de adultos que negam os riscos, muitos jovens admitem sentir-se "aprisionados" pelos dispositivos, mas não veem alternativas fora do ambiente digital.
Soluções em debate: Escolas livres de celulares
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Experiências positivas: Escolas que adotaram políticas rigorosas (como recolher celulares no início do dia) relatam menos brigas, maior presença nas aulas e mais interação entre alunos. Haidt cita o Reino Unido e a Austrália como exemplos de países que avançaram em legislações sobre o tema.
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Resistência e desafios: Alguns pais resistem por medo de perder contato com os filhos, enquanto adolescentes inicialmente rejeitam a mudança. No entanto, após adaptação, muitos reconhecem os benefícios.
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Dados contraditórios: Um estudo da The Lancet questionou a eficácia das políticas, mas Haidt argumenta que a metodologia foi falha, destacando pesquisas do Policy Exchange (Reino Unido) que comprovam melhorias acadêmicas e comportamentais.
O papel dos pais e da sociedade
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Culpa e superproteção: A jornalista Katty Kay, entrevistadora da BBC, aponta que a cobrança excessiva sobre as mães (que equilibram trabalho e cuidados parentais) as levou a usar telas como "babás digitais". Haidt concorda, acrescentando que a perda de confiança na comunidade (década de 1990) isolou as famílias, sobrecarregando os pais.
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Desigualdade social: Famílias pobres, com menos recursos para atividades offline, são as mais afetadas. Haidt propõe inverter a lógica: em vez de democratizar o acesso a telas, é preciso garantir que todas as crianças tenham proteção semelhante à dos ricos (que muitas vezes limitam o uso em casa).
O argumento para os jovens: "Não sejam enganados"
1.
Conscientização: Haidt prepara uma versão do livro para crianças de 8 a 12 anos, alertando sobre as táticas das redes sociais para "fisgar" usuários. A mensagem central é: "Vocês querem uma vida divertida? Não deixem que essas empresas controlem seu tempo".
2.
Redesenhar a infância: O autor enfatiza que a questão não é demonizar a tecnologia, mas priorizar experiências reais. Brincadeiras, conversas presenciais e tempo livre são essenciais para o desenvolvimento cerebral.
Um chamado para ação coletiva
Jonathan Haidt não propõe soluções simples, mas defende mudanças estruturais:
- Escolas: Proibir celulares de forma integral, não apenas em aulas.
- Pais: Encorajar atividades offline e reduzir a culpa por não monitorar filhos 24/7.
- Governos: Legislações que obriguem plataformas a priorizar segurança infantil.
- Jovens: Reconhecer que estão sendo manipulados por algoritmos e buscar autonomia.
Empresas como Meta e TikTok afirmam ter ferramentas de proteção, mas Haidt sustenta que a regulamentação é insuficiente. A saída, segundo ele, está em repensar coletivamente o que significa uma infância saudável na era digital.