Direitos em debate: Por que os avanços tecnológicos não eliminam a experimentação arcaica com animais?
No dia 8 de outubro de 2024, a professora Patricia MacCormack, da Anglia Ruskin University, publicou um artigo discutindo a recente proposta do governo espanhol de proibir experimentos prejudiciais em grandes primatas, como chimpanzés, gorilas, orangotangos e bonobos. Essa iniciativa representa um passo importante na luta pelos direitos dos animais, mas também levanta questões éticas complexas sobre a experimentação animal.
Importância da proposta
-
Avanço nos direitos dos animais: A proposta da Espanha é inovadora em comparação com a situação de muitos países, onde os direitos dos primatas não são reconhecidos. Se aprovada, poderia servir de modelo para outras nações.
-
Especismo e hierarquia das espécies: A discussão sobre os direitos humanos dos grandes primatas questiona a forma como os humanos entendem e controlam o mundo natural. Muitas vezes, essa visão coloca os humanos no topo de uma hierarquia, tratando outros animais como inferiores. Essa prática, conhecida como especismo, faz com que a dor e o sofrimento de algumas espécies sejam desconsiderados.
-
Critérios de necessidade: A definição do que é considerado "necessário" para experimentos varia de acordo com os interesses dos pesquisadores. Muitas vezes, isso se concentra em pesquisas em situações de emergência, como pandemias, e não leva em conta o sofrimento dos animais.
-
Alternativas éticas: O avanço tecnológico oferece novas alternativas à experimentação com animais. Métodos como o uso de células-tronco e inteligência artificial podem substituir testes em primatas, o que levanta a questão sobre a necessidade de continuar com práticas consideradas arcaicas.
A realidade da experimentação
-
Atualmente, 29 países, incluindo Reino Unido e Nova Zelândia, proibiram experimentos que sejam considerados "desnecessários" em grandes primatas. No entanto, as definições de "necessário" e "desnecessário" muitas vezes dependem do contexto, e muitos pesquisadores ainda realizam experimentos em situações que não são realmente essenciais.
-
É importante destacar que, enquanto os grandes primatas são frequentemente vistos como mais parecidos com os humanos e, portanto, mais dignos de proteção, outros animais, como macacos menores e cães, continuam a ser submetidos a experimentos invasivos. Isso evidencia um padrão de discriminação na forma como diferentes espécies são tratadas.
Questões éticas
A discussão sobre os direitos dos grandes primatas e a experimentação animal também levanta importantes questões éticas. A famosa citação do filósofo Jeremy Bentham, "A questão não é: 'eles podem raciocinar? podem falar?'; e sim, 'Eles podem sofrer?'"
, é frequentemente utilizada para destacar a importância de considerar o sofrimento animal. Porém, a realidade é que a dor de um animal só é considerada relevante quando ele se assemelha aos humanos.
"Se realmente somos uma sociedade tecnologicamente avançada, é hora de refletir: por que ainda insistimos em métodos científicos que são arcaicos e antiéticos? Não podemos continuar ignorando o sofrimento de seres sencientes em nome da 'ciência'."
A proposta da Espanha de conceder direitos mais robustos aos grandes primatas é um avanço significativo, mas também traz à tona questões éticas complexas. A sociedade deve reavaliar suas práticas e a forma como interage com outras espécies. Com as alternativas tecnológicas disponíveis, é hora de repensar a necessidade de continuar com a experimentação em animais. Se a ciência avançou, por que ainda insistimos em métodos que são considerados antiéticos e imprecisos? O futuro dos direitos dos primatas e a integridade da pesquisa científica dependem da disposição da sociedade em adotar uma abordagem mais ética e responsável.