Ataque a professora em Caxias do Sul: O grupo 'Matadores' do Instagram e o alerta sobre violência escolar no Brasil

No dia 1º de abril de 2024, uma terça-feira abafada em Caxias do Sul (RS), o Brasil foi surpreendido por um crime brutal ocorrido dentro de uma escola pública. Três adolescentes — Thiago (15 anos), João (14) e Camila (13) — planejaram e executaram um violento ataque contra uma professora de inglês na Escola Municipal João de Zorzi. O caso reacendeu debates importantes sobre a segurança nas instituições de ensino, a influência digital sobre adolescentes e os limites do sistema socioeducativo.
Como o ataque aconteceu
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Os três adolescentes se encontraram numa parada de ônibus próxima à escola para dividir cinco facas trazidas de casa. Ao entrarem na sala de aula, desligaram a câmera de segurança e fecharam a porta. A professora Luana (nome fictício), de 34 anos, foi surpreendida pelas costas enquanto distribuía livros. Thiago e João desferiram ao menos 13 golpes com armas brancas. Camila, embora estivesse armada, não participou diretamente da agressão.
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A ação foi interrompida graças aos gritos dos alunos, que chamaram uma enfermeira da unidade de saúde ao lado. Luana foi socorrida com vida, mas ficou gravemente ferida e foi afastada das atividades, lidando agora com traumas físicos e psicológicos severos.
O planejamento e a radicalização online
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O ataque foi premeditado em um grupo criado no Instagram chamado “Matadores”. Segundo as investigações, os adolescentes estavam revoltados por terem sido repreendidos por inflar preservativos como balões em sala de aula dias antes. As mensagens trocadas entre eles continham frases como “vamos matar quantos?” e “quem tiver na frente”.
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Fotos de Thiago usando capuz, segurando facas e usando emojis de sangue e ninja também foram encontradas em seu perfil público. A polícia investiga se há conexão com grupos extremistas online, embora até o momento não haja confirmação direta.
O perfil dos adolescentes e o contexto familiar
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Thiago e João haviam repetido o 7º ano duas vezes e eram considerados indisciplinados, mas não tinham histórico de violência. Passavam muitas horas em casa, isolados, jogando Free Fire e imersos em redes sociais. Segundo os pais, o comportamento deles em casa era tranquilo e nada indicava o que estavam planejando.
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Esse distanciamento entre o que os jovens mostram em casa e como agem no ambiente virtual levanta sérios alertas sobre a necessidade de vigilância mais atenta por parte das famílias.
A estrutura da escola e suas falhas evidentes
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A Escola João de Zorzi passou por reformas, mas carecia de medidas básicas de segurança. Não havia botão de pânico, e os portões não estavam trancados. Professores afirmaram não ter notado ameaças prévias, mesmo com o grupo conversando abertamente sobre o ataque no refeitório dias antes.
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Após o atentado, professores protestaram por melhorias urgentes, e a prefeitura prometeu reforço nas rondas escolares. A situação expôs a fragilidade da rede pública diante de riscos reais.
O cenário nacional da violência escolar
- Dados da Unicamp, por meio do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem), mostram que 42 ataques ocorreram em escolas brasileiras desde 2001. Mais da metade aconteceu entre 2022 e 2024. A maioria dos ataques envolve armas brancas, como facas, e os agressores geralmente são adolescentes do sexo masculino, isolados socialmente, vítimas de bullying ou influenciados por discursos de ódio em ambientes digitais.
As respostas das instituições
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Os três adolescentes estão internados em unidades socioeducativas, aguardando julgamento. Por serem menores de 18 anos, não podem ser responsabilizados penalmente como adultos, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
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Em resposta política, a Câmara Municipal de Caxias do Sul aprovou uma moção simbólica pedindo a redução da maioridade penal, embora a medida não afete os adolescentes envolvidos, que têm menos de 16 anos. O advogado da professora busca responsabilizar judicialmente o município pelas falhas na segurança.
O que aprendemos com essa tragédia
O ataque em Caxias do Sul não é um evento isolado, mas parte de um padrão preocupante de violência escolar associado à negligência, ao despreparo institucional e à radicalização digital. O caso impõe reflexões urgentes e ações imediatas:
- Monitoramento digital responsável: Redes sociais como o Instagram precisam intensificar a detecção de conteúdos violentos e promover denúncias eficazes.
- Apoio psicológico nas escolas: É essencial haver psicólogos capacitados para identificar sinais de risco e oferecer suporte emocional aos alunos.
- Segurança física reforçada: Escolas públicas devem contar com câmeras em pleno funcionamento, treinamento de emergência, vigilância ativa e estruturas de resposta rápida.
- Maior integração entre escola e família: O abismo entre o que jovens mostram no ambiente doméstico e o que vivem online exige diálogo contínuo entre educadores, pais e responsáveis.
Enquanto a professora Luana segue em recuperação, seu caso escancara fragilidades profundas na educação, na segurança e na atenção ao bem-estar emocional dos jovens. Se não houver mudanças sistêmicas, novos episódios de violência escolar continuarão a ameaçar vidas inocentes em todo o país.