Escândalo de espionagem: Diretor da ABIN é intimado por uso ilegal do "FirstMile" – Entenda o Caso

O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Fernando Corrêa, foi intimado pela Polícia Federal nesta terça-feira, 15 de abril de 2025, para depor em um inquérito que investiga um esquema de espionagem ilegal envolvendo o uso da ferramenta digital FirstMile. O depoimento está marcado para quinta-feira, dia 17. O caso é sério e envolve suspeitas de vigilância não autorizada a autoridades nacionais e até internacionais.
Importâncias e relevâncias da investigação
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Esclarecimento de ações do passado e do presente: A Polícia Federal busca entender se houve obstrução da atual gestão nas investigações sobre o uso da ABIN, durante o governo de Jair Bolsonaro, para espionar figuras públicas e adversários políticos, incluindo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e jornalistas. Este episódio ficou conhecido como Abin paralela.
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Possível envolvimento da gestão atual: Além de ações passadas, há uma linha de investigação que busca saber se o atual diretor Fernando Corrêa autorizou ou tinha conhecimento de uma espionagem a autoridades paraguaias.
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Repercussão internacional: A denúncia de que o Brasil teria executado um ataque cibernético ao Paraguai para obter dados sigilosos levanta questões diplomáticas sérias, já que envolveria diretamente negociações sensíveis relacionadas à usina de Itaipu, que fornece energia ao Brasil e ao Paraguai.
O que é a ferramenta FirstMile
A FirstMile é um programa desenvolvido pela empresa israelense Cognyte (anteriormente chamada Verint). Segundo investigações, a ferramenta foi utilizada para rastrear a localização de até 10 mil pessoas por meio de seu número de celular, acessando redes móveis (2G, 3G e 4G) e utilizando torres de sinal para identificar a posição dos aparelhos.
Entre os principais pontos revelados até o momento:
1.
A ferramenta foi adquirida em 2018, sem licitação, por cerca de R$ 5,7 milhões, durante o governo de Michel Temer.
2.
A ABIN, segundo documentos e depoimentos, não possuía autorização legal para usar o programa.
3.
Durante o governo Bolsonaro, o programa teria sido usado para rastrear jornalistas, autoridades e outros considerados “desafetos”.
4.
A utilização continuou nos três primeiros anos do governo Bolsonaro, com relatos de que parte dessa vigilância teria se estendido ao início do governo Lula.
Ataque hacker ao Paraguai
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Um dos trechos mais delicados da investigação envolve uma suposta ação cibernética contra o governo do Paraguai. Conforme o G1, um investigador da PF afirmou que o ataque foi iniciado ainda na gestão Bolsonaro, mas teria continuado no governo Lula com a autorização do atual diretor Fernando Corrêa e do então diretor interino Saulo de Cunha Moura, que ocupou o cargo em maio de 2023.
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O objetivo da espionagem era obter dados estratégicos e sigilosos sobre valores em negociação de um trecho do tratado de Itaipu, o qual define o preço que o Brasil paga ao Paraguai pela energia da usina. A gestão Lula afirma que, assim que tomou conhecimento da operação, ordenou sua interrupção.
Nota da ABIN
- Em resposta às revelações, a ABIN divulgou nota ao G1 declarando estar à disposição das autoridades e reforçando o compromisso de colaborar em todas as esferas (administrativa, civil ou criminal), principalmente no que diz respeito a decisões tomadas durante a gestão anterior.
A intimação do diretor da ABIN reacende uma investigação de alto impacto que envolve espionagem ilegal, violação de direitos civis, uso indevido de tecnologia de rastreamento e até ações internacionais com potencial risco diplomático. O uso da ferramenta FirstMile e a suspeita de continuidade de práticas obscuras mesmo após a mudança de governo indicam a necessidade urgente de rever os mecanismos de controle e transparência sobre o uso de tecnologias de vigilância por órgãos de Estado.