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quarta-feira, 23 de abril de 2025 às 10:43

Por que a Igreja Católica está perdendo fiéis no Brasil? Desafios após o Papa Francisco - Evangélicos, falta de padres e política

A Igreja Católica, que já foi hegemônica no Brasil, enfrenta hoje uma série de desafios que ameaçam sua influência e relevância. Com a morte do Papa Francisco, esses problemas — como a perda de fiéis, a escassez de padres e a polarização política — tornam-se um legado complexo para o próximo pontífice. Este resumo explora essas questões de forma detalhada:

A perda de fiéis e a ascensão evangélica

  • Dados alarmantes: Em 2000, 74% dos brasileiros se declaravam católicos; em 2010, esse número caiu para 65%. Pesquisas recentes, como a do Datafolha (2020), indicam que apenas 50% da população ainda se identifica como católica.

  • Crescimento evangélico: No mesmo período, os evangélicos saltaram de 15% para 22% (2010) e, em 2020, já representavam 31% da população.

Causas:

  • Cultural: Muitos católicos são "não praticantes", herança de uma identidade cultural, mas não religiosa.
  • Conservadorismo: Para alguns, como Frei Betto, os pontificados de João Paulo 2º e Bento 16 (34 anos de governança conservadora) afastaram fiéis das classes populares.
  • Falta de engajamento: A Igreja Católica historicamente não exigiu participação ativa, ao contrário das igrejas evangélicas, que oferecem comunidades mais vibrantes.

Consequências: A migração para o evangelicalismo é vista como uma busca por espiritualidade mais dinâmica e identitária.

A crise vocacional: A falta de padres

  • Déficit significativo: Em 2018, havia apenas 27,3 mil padres no Brasil — um para cada 7,8 mil habitantes. Na Itália, a proporção é de um padre para mil pessoas.

Possíveis soluções não adotadas:

1. Ordenação de homens casados, proposta no Sínodo da Amazônia (2019), foi rejeitada.

2. Diaconato feminino também não avançou.

Problemas estruturais:

  • Celibato: Para alguns, como Frei Betto, o fim do celibato obrigatório atrairia mais vocações. Outros, como o sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, argumentam que o problema é a falta de atratividade da vida pastoral frente a outras carreiras.
  • Escândalos de abuso: Casos de pedofilia e corrupção minam a credibilidade da instituição.

Polarização política e o papel da Igreja

  • Francisco e a política: O papa foi acusado de "comunista" por conservadores devido a suas críticas ao capitalismo e defesa de causas sociais e ambientais (como na encíclica Laudato Si’).

Desafios atuais:

  • Amazônia: O Sínodo de 2019 destacou a necessidade de proteger indígenas e o meio ambiente, mas propostas como um rito litúrgico adaptado às culturas locais ainda não saíram do papel.
  • Posicionamento: A Igreja busca equilibrar sua doutrina social com a não partidarização, mas a polarização dificulta esse diálogo.
  • Mulheres na Igreja: Embora tenham ganhado visibilidade (como no Sínodo da Amazônia), a ordenação feminina segue barrada.

Estratégias para o futuro

Recuperar fiéis:

  • Exemplo e coerência: O vaticanista Filipe Domingues destaca que a falta de "testemunho" (prática coerente com os valores pregados) afasta os jovens.
  • Comunidades ativas: A antropóloga Lidice Meyer sugere que a Igreja se aproxime dos problemas locais para atrair católicos não praticantes.

Renovar o clero:

  • Adaptar a formação sacerdotal aos novos tempos, como defende o padre Eliomar Ribeiro.
  • Explorar modelos alternativos, como comunidades religiosas temporárias (proposto por Frei Betto).

Engajamento social:

  • Manter a atuação em causas como desigualdade e meio ambiente, sem alinhamento ideológico.

A Igreja Católica no Brasil vive um momento de transição crítica. Se, por um lado, sua estrutura ainda é a maior do mundo (com milhares de paróquias e bispos), por outro, precisa se reinventar para frear a perda de fiéis, resolver a crise vocacional e navegar na polarização política. O legado do papa Francisco — marcado por tentativas de reforma e aproximação com as causas sociais — serve como base, mas a instituição precisará de coragem para implementar mudanças profundas. Seu futuro dependerá da capacidade de conciliar tradição e modernidade, mantendo-se relevante em uma sociedade cada vez mais diversa e plural.

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