Do fim da Guerra Fria ao rearmamento: "ReArm Europe" - Como a Europa está reconstruindo sua defesa após décadas de paz

Após décadas de tensão e medo de uma guerra nuclear, finalmente um respiro aliviado. Esse foi o cenário na Europa após o fim da Guerra Fria, em 1991. Com a queda do Muro de Berlim e o colapso da União Soviética, os países europeus puderam redirecionar recursos antes gastos em defesa para áreas como saúde, educação e infraestrutura. Mas, décadas depois, a invasão russa da Ucrânia em 2022 e as mudanças na política dos EUA trouxeram de volta a necessidade de investir pesadamente em segurança. Vamos entender esse cenário, desde os benefícios do fim da Guerra Fria até os desafios atuais que estão levando a Europa a se rearmar.
O que foram os "dividendos da paz"?
Com o fim da Guerra Fria, os países europeus reduziram drasticamente seus gastos militares. Esse dinheiro, antes usado para tanques, aviões e soldados, foi redirecionado para melhorar a vida das pessoas. Esse fenômeno ficou conhecido como os "dividendos da paz".
Exemplos práticos:
- Em 1990, a Alemanha gastava quase 5% do seu PIB em defesa. Em 2021, esse número caiu para 1,3%.
- O Reino Unido, que chegou a gastar 10% do PIB em defesa, reduziu para 2,07% no mesmo período.
Impacto na sociedade:
- Os governos investiram em saúde, educação e infraestrutura.
- A Alemanha, por exemplo, economizou
680 bilhões de euros
em gastos militares desde 1991, usando parte desse dinheiro para fortalecer seu sistema de bem-estar social.
A dependência da Europa em relação aos EUA
Enquanto a Europa reduzia seus gastos militares, os Estados Unidos continuavam a investir pesadamente em defesa. Isso criou uma relação de dependência: a segurança europeia passou a depender fortemente da Otan, liderada pelos EUA.
Números que assustam:
- Hoje, os EUA respondem por 70% dos gastos militares da Otan, enquanto os países europeus contribuem com apenas 30%.
- Sem o apoio americano, a Europa teria dificuldades para enfrentar ameaças como a Rússia.
O alerta da Ucrânia:
- A invasão russa da Ucrânia em 2022 mostrou que a Europa não estava preparada para lidar sozinha com uma crise de segurança dessa magnitude.
Por que a Europa está se rearmando agora?
A guerra na Ucrânia foi um choque para a Europa. De repente, ficou claro que a paz não era garantida e que o continente precisava se preparar para possíveis ameaças.
Declarações de líderes europeus:
- Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, afirmou:
"A Europa é convocada a assumir um maior controle da sua própria defesa, não em um futuro distante, mas hoje."
- Emmanuel Macron, presidente da França, destacou:
"O futuro da Europa não pode ser decidido em Washington ou Moscou."
Aumento nos gastos militares:
- Em 2023, 23 dos 32 países da Otan estavam próximos de atingir a meta de gastar 2% do PIB em defesa.
- A Alemanha, por exemplo, anunciou um fundo especial de 100 bilhões de euros para modernizar suas Forças Armadas.
O plano "ReArm Europe": Um novo começo
Para fortalecer sua defesa, a Europa lançou a iniciativa "ReArm Europe", que pretende mobilizar até US$ 868 bilhões em investimentos militares.
Como funciona o plano?
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Isenção do pacto de estabilidade: Os países poderão aumentar gastos militares sem se preocupar com limites de déficit fiscal.
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Empréstimos para defesa: Cerca de
US$ 163 bilhões
serão disponibilizados para compra de equipamentos como drones, sistemas antimísseis e armas modernas. -
Redirecionamento de fundos: Recursos existentes da União Europeia serão usados para investimentos de curto prazo em defesa.
Objetivo principal: Tornar a Europa menos dependente dos EUA e mais capaz de proteger a si mesma.
Desafios no caminho do rearmamento
Apesar dos planos ambiciosos, a Europa enfrenta obstáculos significativos para se rearmar.
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Problemas financeiros:
Muitos países, como Itália e França, já têm dívidas altas. Aumentar gastos militares pode exigir cortes em áreas como saúde e educação. -
Falta de cooperação:
A indústria de defesa europeia é fragmentada, com cada país priorizando seus próprios interesses. Isso gera ineficiências e dificulta a compra conjunta de equipamentos. -
Dependência de armamentos americanos:
Comprar armas dos EUA pode ser mais fácil, mas isso mantém a Europa dependente de Washington, indo contra o objetivo de autonomia estratégica.
O que esperar do futuro?
A guerra na Ucrânia serviu como um alerta para a Europa. Agora, o continente está em uma encruzilhada:
1.
Autonomia ou dependência?
A Europa pode se tornar uma potência militar autônoma, capaz de defender a si mesma, ou continuar dependendo dos EUA para sua segurança.
2.
Impactos sociais e econômicos:
O rearmamento exigirá sacrifícios, como cortes em gastos sociais ou aumento de impostos. Como os cidadãos europeus reagirão a isso?
3.
Cooperação entre países:
A chave para o sucesso pode estar na maior cooperação entre os países europeus, tanto na compra de armamentos quanto no planejamento de estratégias de defesa.
Um novo capítulo na segurança europeia
O fim da Guerra Fria trouxe décadas de paz e prosperidade para a Europa, mas também criou uma falsa sensação de segurança. Agora, com a ameaça russa e a incerteza sobre o apoio dos EUA, o continente está se rearmando para enfrentar os desafios do futuro.
A iniciativa "ReArm Europe" é um passo importante, mas seu sucesso dependerá da capacidade dos países europeus de superar diferenças, investir em sua própria indústria de defesa e garantir que os cidadãos apoiem essas mudanças. A Europa está escrevendo um novo capítulo em sua história, e as escolhas feitas hoje definirão seu papel no mundo nas próximas décadas.