Tragédia em Congonhas: O acidente da TAM que chocou o Brasil e o polêmico documentário da Netflix

No dia 17 de julho de 2007, o Brasil viveu um dos piores acidentes aéreos de sua história: o voo 3054 da TAM (atual LATAM) colidiu com um prédio e um posto de gasolina após não conseguir frear no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. O desastre, que matou 199 pessoas (187 a bordo e 12 no solo), é revisitado no documentário Congonhas: Tragédia Anunciada, lançado pela Netflix em 23 de abril de 2025. A série expõe falhas sistêmicas e a falta de responsabilização dos envolvidos, mesmo após quase duas décadas.
O que aconteceu no acidente do voo 3054?
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O Airbus A320-233 partiu de Porto Alegre com destino a São Paulo, mas, ao pousar em Congonhas, não conseguiu parar na pista 35L, escorregando devido à chuva e à falta de ranhuras (groovings) no asfalto.
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A aeronave colidiu com o prédio da TAM Express e um posto de combustível, causando uma explosão.
Investigação do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) apontou múltiplas causas:
- Erro humano: O piloto configurou incorretamente os manetes (alavancas de controle).
- Falhas na infraestrutura: A pista não tinha sulcos para drenar água, agravando o risco em dias chuvosos.
- Problemas técnicos: Um reversor (sistema de frenagem) do motor direito estava inoperante.
- Gestão negligente: A Infraero liberou o uso da pista mesmo sabendo das deficiências, e a ANAC não interrompeu operações sob chuva intensa.
Por que o acidente foi considerado uma "tragédia anunciada"?
- Alertas ignorados: Pilotos já haviam reportado os perigos da pista lisa e sem drenagem.
- Contexto do "Apagão Aéreo" (2006): O caos nos voos brasileiros pressionou autoridades a manter Congonhas operando, mesmo com riscos.
- Falhas na fiscalização: A Infraero e a ANAC não cumpriram seu papel de garantir segurança, priorizando a continuidade dos voos.
As consequências e mudanças pós-acidente
Medidas técnicas:
- Obrigatoriedade de sistemas de alerta para configuração errada de manetes.
- Implantação de groovings em todas as pistas do país.
- Redução do número de pousos e decolagens por hora em Congonhas.
Fiscalização reforçada:
- Maior rigor da ANAC sobre companhias aéreas.
- Treinamento ampliado para equipes de emergência.
Justiça falha: Em 2015, os principais acusados (como Denise Abreu, da ANAC, e executivos da TAM) foram absolvidos, sob o argumento de que não houve "dolo" (intenção de matar).
O documentário e a importância da memória
O diretor Angelo Defanti, em entrevista ao UOL, destacou que a série busca:
- Humanizar as vítimas: Relembrar as histórias dos afetados.
- Expor erros evitáveis: A tragédia foi resultado de uma cadeia de negligências.
- Alertar para riscos atuais: A privatização de Congonhas pode repetir erros do passado, como a pressão por mais voos em detrimento da segurança.
Uma lição que não pode ser esquecida
O acidente da TAM em Congonhas revelou falhas críticas na aviação civil brasileira, desde a manutenção de aeronaves até a gestão de aeroportos. Apesar das melhorias técnicas, a impunidade dos responsáveis deixou marcas. O documentário da Netflix serve como um alerta: a segurança aérea deve sempre vir antes de interesses econômicos ou políticos. Como Defanti ressalta, lembrar essa história é honrar as vítimas e evitar que novas tragédias ocorram.