Brasil-China: Comércio em ascensão ignora tensão EUA-China e impulsiona recordes - Agronegócio, Brics e nova rota marítima

A intensificação das relações comerciais entre Brasil e China tem ganhado destaque internacional diante da crescente tensão entre Estados Unidos e China. Com a elevação das tarifas impostas por Donald Trump contra produtos chineses, o Brasil vê uma oportunidade estratégica de se posicionar como parceiro confiável e ampliar sua presença no mercado chinês. Esse movimento não é recente, mas foi acelerado pelas mudanças no cenário geopolítico e econômico global.
Corrente de comércio recorde entre Brasil e China
- Entre janeiro e março de 2025, a corrente de comércio entre os dois países ultrapassou
US$ 38,8 bilhões
, um recorde para o período. As exportações brasileiras chegaram aUS$ 19,8 bilhões
, enquanto as importações da China somaramUS$ 19 bilhões
. Destaque especial vai para o setor naval: as importações brasileiras de plataformas, embarcações e estruturas flutuantes saltaram deUS$ 4 milhões
em 2024 para impressionantesUS$ 2,7 bilhões
em 2025. O Brasil não realizava esse tipo de compra desde 2020, segundo dados do Comex Stat, demonstrando uma reativação relevante da relação comercial nessa área.
Tensão EUA-China abre portas para o agronegócio brasileiro
- A guerra comercial entre EUA e China não se limita ao setor industrial. No agronegócio, o Brasil se posiciona para aproveitar brechas deixadas pelos impasses entre as duas potências. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, reconheceu publicamente que as tensões estão acelerando negociações com Pequim. Um dos focos centrais do Brasil é a redução da burocracia chinesa para a importação de sementes geneticamente modificadas e alimentos com edição gênica. O Ministério da Agricultura do Brasil já se prepara para uma reunião com o GACC (departamento alfandegário chinês) no dia 22 de abril, com esse objetivo.
Diplomacia ativa e visita presidencial à China
- Em um esforço coordenado para fortalecer as relações bilaterais, o governo brasileiro está enviando uma comitiva de alto escalão à China. A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim está prevista para maio. Antes disso, os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil) já estão articulando os detalhes e preparando novos acordos. Essa diplomacia ativa busca não apenas consolidar laços comerciais, mas também ampliar a presença brasileira em setores estratégicos como energia, infraestrutura e tecnologia.
Nova rota marítima direta Brasil-China
- A inauguração de uma rota marítima direta entre a China e o Brasil é um marco logístico importante. A nova ligação entre o Porto de Gaolan, na cidade chinesa de Zhuhai, e os portos brasileiros de Santana (Amapá) e Salvador (Bahia), reforça o papel do Brasil como ponto de entrada e saída de produtos agrícolas e minerais. Segundo o Ministério de Portos e Aeroportos, essa rota atende diretamente zonas de produção consideradas estratégicas, o que pode reduzir custos e tempo de transporte, fortalecendo a competitividade do Brasil no comércio internacional.
Brics e o desafio à hegemonia do dólar
- Durante reunião do Grupo de Trabalho de Agricultura do Brics, realizada em Brasília, os países do bloco (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) apoiaram formalmente a proposta russa de criar uma “Bolsa de Grãos do Brics”. A ideia é facilitar o comércio agrícola entre os membros do bloco e diminuir a dependência do dólar nas transações. A proposta surge como alternativa às tradicionais bolsas americanas CBOT e KCBT. Além disso, foi assinada uma declaração conjunta que prevê maior cooperação em pesquisa e desenvolvimento para a inovação no setor agrícola, com foco na fabricação de maquinários adaptados às realidades de cada país.
A aproximação entre Brasil e China é um reflexo direto da reconfiguração geopolítica global. O protecionismo norte-americano tem empurrado parceiros comerciais tradicionais a buscarem novos caminhos, e o Brasil tem aproveitado esse cenário com estratégia e diplomacia ativa. A intensificação de laços comerciais, a inauguração de novas rotas logísticas, o avanço em pautas tecnológicas no agronegócio e o fortalecimento dos Brics são indicativos de que o país está buscando protagonismo em um novo cenário internacional. Se bem conduzido, esse reposicionamento pode garantir ao Brasil ganhos comerciais, tecnológicos e estratégicos de longo prazo.