A carta na manga da China na guerra comercial com os Estados Unidos: Controle estratégico sobre as "terras raras"

A guerra comercial entre China e Estados Unidos, iniciada durante o governo de Donald Trump(2019), ganha um novo capítulo decisivo. Enquanto os EUA impõem tarifas de até 34% sobre produtos chineses, a China reage com uma poderosa ferramenta geopolítica: o controle quase absoluto sobre a produção e o processamento de terras raras, elementos essenciais para tecnologias avançadas. O presidente Xi Jinping deixou claro em 2019 que esses minerais são um recurso estratégico vital, e Pequim passou a agir em conformidade.
Importâncias e relevâncias da questão
O que são terras raras e por que são tão valiosas?
- As terras raras são 17 elementos químicos essenciais para a fabricação de produtos de alta tecnologia como iPhones, carros elétricos, aviões militares e equipamentos médicos. Apesar de estarem presentes em diversos países, seu processamento é extremamente complexo e custoso, o que dá à China uma vantagem estratégica ao dominar 92% dessa etapa da cadeia global de suprimentos, segundo a Agência Internacional de Energia.
A nova ofensiva da China
- Em abril de 2025, o governo chinês impôs novas restrições à exportação de sete tipos de minerais de terras raras, exigindo licenças especiais para exportá-los. A medida afetou imediatamente empresas americanas e europeias, com interrupções nas remessas e incertezas regulatórias. Entre os materiais restringidos estão ímãs essenciais para motores de aviões, carros, celulares e armamentos como os caças F-35.
O impacto direto nos EUA e aliados
- Os Estados Unidos dependem da China para cerca de 70% de suas importações de terras raras. Com as novas medidas, diversas empresas enfrentaram paralisações nas entregas e precisaram recorrer às autoridades chinesas para tentar liberar os materiais. A medida expôs a fragilidade da cadeia de suprimentos ocidental e acendeu o alerta em Washington.
Histórico do domínio chinês
- A China iniciou a extração de terras raras na década de 1950, mas foi entre os anos 1970 e 1990 que consolidou seu poder, adotando tecnologias estrangeiras e investindo pesadamente em pesquisa, automação e escala. Durante visita em 1992, Deng Xiaoping afirmou: “Enquanto há petróleo no Oriente Médio, a China tem terras raras.” Hoje, essa visão se concretizou.
Riscos geopolíticos e precedentes
- Esta não é a primeira vez que a China utiliza sua dominância na área como ferramenta diplomática. Em 2010, interrompeu o fornecimento ao Japão durante uma disputa territorial. Em 2023, proibiu a exportação de tecnologias de extração e separação. Além disso, restringiu o envio de minerais críticos como o gálio.
Reação e reconstrução americana
- Diante do desafio, os EUA buscam reduzir a dependência externa. Desde 2020, o Departamento de Defesa investiu mais de
US$ 439 milhõe
s para criar uma cadeia de suprimentos doméstica completa até 2027. Empresas como a USA Rare Earth e a Phoenix Tailings já trabalham em projetos para produção e refino com menor impacto ambiental e maior escala, embora enfrentem limitações técnicas e logísticas.
A ofensiva chinesa no campo das terras raras escancara a fragilidade da indústria ocidental de matérias-primas essenciais e marca um momento crítico na rivalidade tecnológica e econômica entre China e Estados Unidos. Pequim demonstrou que, mesmo com menos capacidade para retaliar via tarifas, pode causar impactos profundos ao tocar um nervo estratégico da indústria americana: o acesso a elementos cruciais para o futuro da inovação.
Diante desse cenário, os Estados Unidos correm contra o tempo para reconstruir sua capacidade de produção e reduzir sua vulnerabilidade. A disputa, antes centrada em taxas e acordos comerciais, agora se estende à própria base material da economia moderna, e quem controlar essas cadeias de suprimento poderá determinar os rumos da geopolítica nas próximas décadas.