Casamento entre primos: O que dizem de fato os estudos sobre os riscos para os filhos?

O casamento entre primos de primeiro grau é uma prática comum em várias partes do mundo, especialmente em algumas comunidades do Sul da Ásia, Oriente Médio e entre certos grupos imigrantes na Europa. Embora essa tradição tenha raízes culturais e familiares, estudos recentes apontam que pode haver consequências importantes para a saúde dos filhos.
O estudo "Nascidos em Bradford", conduzido no Reino Unido, analisou dados de mais de 13 mil crianças ao longo de 18 anos e revelou informações preocupantes sobre os impactos da consanguinidade. Mas afinal, quais são esses riscos e como diferentes países estão lidando com essa questão?
O que a ciência descobriu?
Pesquisadores da Universidade de Bradford acompanharam o desenvolvimento de milhares de crianças e compararam os efeitos do casamento entre primos com casamentos sem laços familiares diretos. Os principais achados foram:
1. Maior chance de doenças genéticas
Filhos de primos em primeiro grau têm o dobro de chances de herdar doenças genéticas recessivas, como fibrose cística e anemia falciforme. isso ocorre porque os pais compartilham uma carga genética semelhante, aumentando a probabilidade de transmitirem genes defeituosos.
2. Atrasos no desenvolvimento infantil
Crianças com pais consanguíneos apresentaram uma taxa mais alta de atrasos no desenvolvimento da fala e linguagem. enquanto a média geral de crianças com dificuldades na fala é de 7%, entre filhos de primos esse número sobe para 11%.
3. Maior necessidade de atendimento médico
Estudos mostram que essas crianças visitam médicos com uma frequência 30% maior do que filhos de pais sem parentesco. isso sugere um impacto geral na saúde, indo além das doenças genéticas já conhecidas.
Os resultados mostram que os efeitos da consanguinidade podem ser mais amplos do que se imaginava, afetando não apenas doenças específicas, mas também o desenvolvimento e a saúde geral das crianças.
Como outros países lidam com essa questão?
Diante desses riscos, alguns países já adotaram medidas para restringir ou até mesmo proibir casamentos entre primos. Entre os exemplos mais recentes estão:
- Noruega e Suécia: Baniram esse tipo de casamento para reduzir os impactos na saúde pública.
- Reino Unido: Atualmente permite, mas há um crescente movimento político pedindo a proibição. Parlamentares como Richard Holden propuseram projetos de lei para impedir essas uniões.
- Outros países europeus: Alguns exigem aconselhamento genético antes do casamento, enquanto outros apenas alertam sobre os riscos.
O debate não se limita à genética. há também a preocupação com os custos para o sistema de saúde e o impacto social de uma possível proibição.
A endogamia é um problema ainda maior?
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Alguns especialistas apontam que a questão vai além do casamento entre primos. o problema maior pode ser a endogamia, que ocorre quando casamentos acontecem dentro de um grupo fechado por várias gerações. mesmo sem parentesco direto, membros dessas comunidades compartilham uma carga genética semelhante, aumentando o risco de doenças hereditárias.
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Exemplos de populações que historicamente enfrentaram desafios genéticos devido à endogamia incluem certas comunidades judaicas e grupos nobres da Europa, como a realeza britânica e espanhola.
Quais as possíveis soluções?
Com a ciência apontando os riscos da consanguinidade, surgem diferentes propostas para lidar com o problema. as principais opções são:
1.
Aconselhamento genético obrigatório
Casais consanguíneos poderiam ser incentivados ou obrigados a realizar testes genéticos antes do casamento ou da gravidez, identificando possíveis riscos para os filhos.
2.
Restrição ou proibição legal
Alguns países defendem uma proibição completa do casamento entre primos, como ocorre na noruega e na suécia. no entanto, essa medida pode gerar resistência cultural e social.
3.
Maior conscientização pública
Informar as comunidades sobre os riscos e promover debates dentro dos próprios grupos pode ser um caminho menos impositivo, permitindo que mudanças ocorram gradualmente.
Estudos mostram que casamentos entre primos aumentam os riscos de doenças genéticas, atrasos no desenvolvimento e maior demanda por cuidados médicos. Diante desses impactos, países como Noruega e Suécia já proibiram essa prática, enquanto outros adotam medidas como aconselhamento genético. O debate envolve tanto questões de saúde pública quanto respeito às tradições culturais. O futuro dessa regulamentação dependerá do equilíbrio entre preservar direitos individuais e mitigar riscos para as próximas gerações.